Oxandrolona e Seus Impactos Lipídicos: Entre Estética, Terapia e Riscos Cardiovasculares
- Henrique Pereira
- 9 de jun.
- 3 min de leitura
A oxandrolona é um esteroide anabolizante sintético derivado da di-hidrotestosterona (DHT), amplamente utilizado tanto em contextos terapêuticos quanto estéticos. Sua popularidade entre praticantes de musculação se deve à capacidade de promover aumento de massa magra e força com relação anabólica favorável e baixa atividade androgênica. No entanto, seu uso não supervisionado pode levar a alterações fisiológicas prejudiciais, em especial no perfil lipídico, contribuindo para riscos cardiovasculares a longo prazo.
Uso Terapêutico vs. Estético Terapêuticamente, a oxandrolona é indicada para casos de perda de peso involuntária, queimaduras graves, osteoporose, sarcopenia relacionada ao envelhecimento ou doenças crônicas, além de hipogonadismo em homens. A dosagem médica costuma ser controlada e de curta duração, respeitando protocolos de segurança.
Por outro lado, o uso recreativo e estético comumente envolve doses mais elevadas e por períodos prolongados, com objetivo de otimização da performance física e estética corporal. Este tipo de uso está frequentemente dissociado do acompanhamento médico, expondo os indivíduos a efeitos colaterais potencialmente graves, como hepatotoxicidade, disfunção endócrina e alterações no metabolismo lipídico.
Lipidograma: Função e Implicações O lipidograma é composto principalmente por quatro marcadores: colesterol total, HDL (lipoproteína de alta densidade), LDL (lipoproteína de baixa densidade) e triglicerídeos.
HDL (colesterol bom): Atua na remoção do excesso de colesterol dos tecidos, transportando-o ao fígado para excreção. Altos níveis são protetores contra doenças cardiovasculares.
LDL (colesterol ruim): Contribui para formação de placas ateroscleróticas nas artérias. Altos níveis são fator de risco para infarto e AVC.
Triglicerídeos: São a principal forma de gordura no organismo. Em excesso, estão associados a resistência à insulina, pancreatite e risco cardiovascular.
Colesterol total: É a soma dos valores de HDL, LDL e outras frações menores.
Estudos demonstram que o uso de oxandrolona, mesmo em curtos períodos, causa significativa redução do HDL e aumento dos triglicerídeos. No estudo de Greboggy et al. (2020), observou-se queda do HDL para 24 mg/dL (normal >40 mg/dL) ao fim do ciclo, com retorno aos valores normais três meses após. Em contraste, os triglicerídeos aumentaram para 177 mg/dL, ultrapassando o limite de segurança (<175 mg/dL).


Essas alterações, ainda que temporárias, são preocupantes. A redução do HDL compromete o transporte reverso do colesterol, favorecendo a formação de placas ateroscleróticas. O aumento dos triglicerídeos é igualmente deletério, pois se associa à inflamação crônica e disfunção endotelial.
Apesar de ser utilizado com fins terapêuticos de maneira segura, o uso recreativo da oxandrolona, sobretudo sem acompanhamento, pode comprometer a saúde cardiovascular. A alteração no perfil lipídico, mesmo que reversível a curto prazo, sugere um estado transitório de alto risco metabólico, o que, em uso repetido ou cumulativo, pode levar a doenças ateroscleróticas precoces.
Portanto, é fundamental que o uso de esteroides anabolizantes seja rigidamente controlado e que a população em geral seja educada sobre os riscos à saúde associados ao uso indiscriminado. O acompanhamento médico, exames laboratoriais regulares e avaliação dos objetivos versus riscos devem nortear qualquer intervenção com essas substâncias.
GREBOGGY, Dênis de Lima et al. Oxandrolone use causes dyslipidemia in resistance-training practitioners. Research Square, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.21203/rs.3.rs-50105/v1. Acesso em: 31 maio 2025.
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