SARMs versus Testosterona: Uma Análise das Evidências Científicas para Estética e Performance
- Henrique Pereira
- 1 de abr.
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O uso de compostos anabólicos com fins estéticos e de performance tem crescido entre praticantes de atividade física. Entre os mais utilizados estão a testosterona e os moduladores seletivos do receptor androgênico (SARMs). Ambos atuam sobre receptores androgênicos, promovendo aumento de massa muscular e força, mas diferem em perfil de segurança, seletividade e respaldo científico. Este artigo tem como objetivo comparar os SARMs e a testosterona, discutindo a base de evidências clínicas disponíveis, os efeitos sobre estética e performance, e os potenciais riscos à saúde.
A busca por aprimoramento físico tem impulsionado o uso de substâncias com efeito anabólico, especialmente entre homens jovens e praticantes de musculação (RONDE; SMIT, 2020). A testosterona, já amplamente estudada e utilizada clinicamente, apresenta potente ação sobre a síntese proteica e aumento da massa magra. Em contrapartida, os SARMs surgem como uma alternativa promissora, com a proposta de oferecer seletividade tecidual e menor risco colateral (FONSECA et al., 2020).

Testosterona: Eficácia e Segurança Clínica
A testosterona é o hormônio androgênico por excelência, com papel central no desenvolvimento de características sexuais masculinas, além de promover aumento de massa e força muscular (BARONE et al., 2022). Estudos clínicos demonstram que a terapia de reposição com testosterona (TRT) em homens hipogonádicos melhora significativamente a composição corporal, a densidade óssea e a performance física (ABBAS et al., 2018; BARONE et al., 2022).
Em indivíduos saudáveis, a administração de testosterona em doses suprafisiológicas promove aumento expressivo de massa magra, força e desempenho atlético (RONDE; SMIT, 2020). No entanto, seu uso está associado a efeitos colaterais significativos, como ginecomastia, supressão do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, dislipidemias, hepatotoxicidade (em derivados orais) e risco cardiovascular (KOSTIC et al., 2011).
SARMs: Potencial e Limitações
Os SARMs foram desenvolvidos com o intuito de ativar seletivamente os receptores androgênicos em tecidos como músculo e osso, minimizando os efeitos adversos em órgãos como próstata e pele (FONSECA et al., 2020). Estudos pré-clínicos demonstraram eficácia em aumentar a massa magra e prevenir a perda óssea, com menor incidência de efeitos colaterais. Compostos como o Ostarine (MK-2866) têm sido os mais estudados em humanos, especialmente em contextos clínicos como sarcopenia e caquexia (AIKAWA et al., 2015; 2017; 2018).
Apesar do potencial, a maioria dos estudos com SARMs ainda está em fase inicial, com amostras pequenas e curta duração. Além disso, muitos ensaios apresentam conflitos de interesse e não avaliam desfechos de longo prazo (FONSECA et al., 2020). Ainda não existem evidências robustas que sustentem o uso dos SARMs como alternativa segura e eficaz para indivíduos saudáveis ou atletas.
Comparação: Estética, Performance e Evidências
Quando comparados diretamente, a testosterona apresenta maior evidência clínica, com resultados mais consistentes no aumento de massa muscular, força e desempenho. Os SARMs, por outro lado, embora promissores, ainda não demonstraram eficácia comparável em humanos saudáveis (FONSECA et al., 2020).
Além disso, a testosterona é amplamente utilizada na prática médica e possui protocolos bem estabelecidos, enquanto os SARMs permanecem como substâncias não aprovadas para uso estético ou esportivo, frequentemente incluídas na lista de substâncias proibidas pela WADA (RONDE; SMIT, 2020).
Considerações Finais
Em termos de resultados estéticos e de performance, a testosterona se mantém como o composto mais eficaz e respaldado pela literatura. No entanto, seu uso requer acompanhamento rigoroso devido aos riscos colaterais. Os SARMs representam uma alternativa com menor toxicidade aparente, mas ainda carecem de estudos clínicos robustos para confirmar sua eficácia e segurança em longo prazo. O uso de ambos os compostos deve ser criteriosamente avaliado, especialmente fora do contexto clínico.
Referências
ABBAS, A. et al. Afinidade da testosterona e seus derivados no receptor androgênico. 2018.
AIKAWA, J. et al. Synthesis and biological evaluation of novel selective androgen receptor modulators. Bioorganic & Medicinal Chemistry, v. 23, n. 10, 2015.
AIKAWA, J. et al. Synthesis and biological evaluation of SARMs II. Bioorganic & Medicinal Chemistry, v. 25, n. 18, 2017.
AIKAWA, J. et al. Synthesis and biological evaluation of SARMs III. Bioorganic & Medicinal Chemistry, v. 26, n. 3, 2018.
BARONE, B. et al. The Role of Testosterone in the Elderly: What Do We Know? International Journal of Molecular Sciences, v. 23, n. 3535, 2022. DOI: 10.3390/ijms23073535.
FONSECA, M. G. R. et al. Selective androgen receptor modulators (SARMs): uma revisão. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 26, n. 1, p. 84-89, 2020.
KOSTIC, T. S. et al. Pharmacological Doses of Testosterone Upregulated Androgen Receptor and 3-Beta-Hydroxysteroid Dehydrogenase and Impaired Leydig Cells Steroidogenesis in Adult Rats. Toxicological Sciences, v. 121, n. 2, p. 397–407, 2011.
RONDE, W.; SMIT, D. L. Anabolic androgenic steroid abuse in young males. Endocrine Connections, v. 9, p. R102–R111, 2020. DOI: 10.1530/EC-19-0557.
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